Deficiente auditivo é diplomado em Educação Física pelo IFRR

por João Pedro baraúno da Silva Miranda publicado 24/09/2015 13h50, última modificação 24/09/2015 19h34

Carlos Pereira Nattrodt é o nome do estudante do Instituto Federal de Roraima (IFRR) que, nesta quinta-feira (24), cola grau e entra para história como o primeiro professor com deficiência auditiva licenciado em Educação Física pela Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica do Brasil. A solenidade será realizada no auditório do Campus Boa Vista Centro, às 19 horas.  

Nattrodt é surdo de nascença. Nasceu no Estado do Amazonas e veio morar em Roraima, junto com os pais, quando tinha apenas cinco anos de idade. Apesar das barreiras enfrentadas, principalmente no ensino fundamental e no médio, tais como falta de acessibilidade, falta de aulas planejadas para deficientes auditivos, ausência de intérprete, entre outras, não desistiu.

Iniciou o ensino fundamental aos 15 anos e, como não assimilava muita coisa, reprovou várias vezes. Aos 20 anos, mudou-se para Manaus, para estudar. Ali conheceu um professor que começou a ensinar-lhe Libras. Aos 22 anos, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde estudou no Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines) e aprimorou os conhecimentos na língua de sinais. Com o retorno a Boa Vista, ajudou outros surdos a aprender Libras e conseguiu, aos 33 anos, concluir o ensino médio.

Aos 40 anos, iniciou a graduação em Educação Física no Instituto Federal de Educação de Roraima (IFRR), pois sempre gostou de esporte. A opção pelo curso foi motivada também pela vontade de contribuir para a formação de outros surdos. No IFRR, teve um intérprete acompanhando-o durante todo o percurso, o que lhe proporcionou ganho substancial no aprendizado e lhe permitiu terminar o curso em tempo hábil, pela primeira vez, em toda a sua formação.

Por meio do intérprete de sinais do IFRR Rogério Mendes, o recém-formado diz: “Estou muito feliz, pois agora minha vida vai melhorar, principalmente no que diz respeito ao mercado de trabalho. Pretendo fazer um concurso público na área e ensinar o que eu aprendi às crianças. Também quero ter uma vida mais estável com minha família. Sou casado e tenho quatro filhos. Minha esposa também é deficiente auditiva, mas nossos filhos são todos ouvintes e falantes. Apesar disso, damo-nos muito bem. Somos uma família feliz, e quero dizer às pessoas que têm algum tipo de deficiência que não desistam por causa das limitações, mas sigam em busca de seus sonhos, porque somos todos capazes”, finaliza.

Para o IFRR, esse é um momento muito importante, porque a instituição vai inserir no mercado de trabalho um profissional com um grande diferencial de atuação na profissão, o que vai servir de exemplo e incentivar outros que também queiram se graduar.

Para a reitora em exercício, professora Sandra Mara Dias Botelho, a formatura do estudante é um marco no programa de inclusão desenvolvido pelo IFRR. “É um divisor de águas, porque o instituto vem desenvolvendo um programa de inclusão com vários alunos, e o Carlos é uma prova de que estamos alcançando nossos objetivos. Essa oportunidade deve ter um gosto muito especial para ele, pois alunos com alguma deficiência geram desafios para nós, professores. Afinal, temos de contribuir para a inclusão social e, provavelmente, daqui para a frente, os professores também vão ter novos olhares sobre o próprio processo de formação”, ressalta.

Na hora da colação de grau, Carlos Nattrodt só não sentirá uma alegria maior porque sua mãe já não está entre nós. Com certeza, se aqui estivesse, seria um orgulho para ela ver o filho se formar em Educação Física e receber das mãos do reitor do IFRR o tão sonhado diploma de nível superior.  

 

Por: Antonio Evaldo Soares

Fonte: CCS/Reitoria

Data: 23/09/2015