RESSIGNIFICAÇÃO – Calendarização de data alusiva aos povos indígenas é o tema da campanha de abril

por Sofia Lampert publicado 16/04/2021 19h10, última modificação 16/04/2021 19h09
A proposta da calendarização é voltada para a ressignificação da data e dos olhares para os povos originários

Neste mês, a data escolhida para a calendarização da campanha  “Que Dia é Hoje? Venha Descobrir com o IFRR” foi o Dia do Índio, celebrado em 19 de abril.  O objetivo é conscientizar a população local da diversidade étnico-cultural dos povos tradicionais, principalmente porque Roraima é o estado brasileiro, em termos proporcionais, com a maior população indígena do País, segundo dados do último censo do IBGE (2010). A data comemorativa foi instituída durante o governo de Getúlio Vargas, por meio do Decreto-Lei 5.540, de 1943. A escolha faz referência à data do 1.º Congresso Indigenista Interamericano, realizado no Município de Pátzcuaro, no Estado de Michoacán, no México, em  19 de abril de 1940.

No entanto, no processo de produção, alguns docentes do instituto entraram em contato e alertaram sobre o equívoco na utilização do termo índio, já em desuso, por evocar uma conotação folclórica e preconceituosa. Por isso, a proposta da calendarização é voltada para a ressignificação da data e dos olhares para esses povos. Em relação ao termo utilizado, o professor doutor Marcos Antônio Oliveira,  do Campus Boa Vista Zona Oeste (CBVZO/IFRR) explicou que a forma mais adequada, atualmente adotada pelas organizações indígenas, é Dia dos Povos Indígenas.  Além disso, o  professor doutor Amarildo Ferreira Júnior, do Campus  Avançado Bonfim (CAB/IFRR),  esclareceu que instituições da área de direitos humanos vêm classificando abril como o Mês Indígena, envolvendo uma série de ações para debater a diversidade.

Em consonância com a proposta da campanha, neste texto será indicado material acadêmico com pesquisa recente e acessível ao público voltada para a data, além de dicas de servidores para referências midiáticas, tais como livro e filme. As indicações expressas, vindas dos professores citados, poderão servir de inspiração aos interessados que queiram compreender melhor as questões ligadas aos povos indígenas e os conhecimentos dos povos tradicionais.

 

Referência acadêmica

 

Em se tratando de questão indígena, o IFRR é referência para todo o País, ainda mais o Campus Amajari, localizado a 150 Km da capital roraimense, onde mais da metade dos alunos se declara índigena. É justamente uma ampla pesquisa sobre essa unidade a referência acadêmica desta campanha. Trata-se da tese de doutorado em educação do professor Marcos Antônio Oliveira, com o titulo “Indígenas e Ensino Médio em Roraima: Demandas de Estudantes Macuxi”, defendida, em 2020, na Universidade de São Paulo (USP), a qual pode ser acessada aqui. Em breve, conforme o docente, o material será lançado na versão livro impresso e digital. À época do estudo, o autor estava lotado no Campus Amajari (CAM/IFRR).

Conforme descrito no resumo, o estudo tem como objetivo central compreender o que atrai os alunos macuxi para a instituição e descobrir o que buscam.  Ao ler o texto, percebe-se a complexidade da pesquisa. O autor faz uma análise que abarca as questões da educação em Roraima com um olhar voltado para os povos indígenas, por ser os que têm maior contingente na unidade.  

A leveza do texto, em tom de narrativa, é motivadora, possibilitando uma leitura breve  e fluida. Ainda sim, não deixa de ser um estudo complexo e organizado. Traz recortes de entrevistas de estudantes, gestores, tuxauas e autoridades, além de imagens, que contribuem para o entendimento da riqueza cultural de diversas etnias e localidades do estado.

Segue breve entrevista realizada com o professor Marcos Antônio. Por meio dela, ele esclarece a importância do enaltecimento da diversidade indígena:

 ASCOM – O senhor acredita que os estudos acadêmicos sobre questões indígenas contribuem para desmitificar a realidade desses povos, inclusive para a comunidade em geral, fora do âmbito acadêmico? Pode explicar isso?

 PROFESSOR MARCOS – Sim. Acredito que a curiosidade sobre as populações indígenas é muito grande e, no caso de Roraima, mais ainda, pois é um estado que possui uma riqueza étnica muito grande. A necessidade de as pessoas acessarem informações sobre essas populações é urgente para sairmos do senso comum e de visões preconceituosas. Hoje encontramos muitos estudos em várias áreas (educação, antropologia, linguística, história) feitos pelos próprios indígenas.

 

ASCOM –  No estudo, o senhor apresenta dados sobre a educação indígena no estado, inclusive sobre as escolas e aos centros de formação voltados para esse público, apontando sérios problemas. Em síntese, como o senhor percebe a importância da formação educacional para os indígenas? Acredita que a Rede Federal tenha um papel diferenciado nessa construção?

 PROFESSOR MARCOS –  Para os povos indígenas, especificamente em Roraima, a luta por acesso às suas terras originárias está ligada à garantia da educação escolar diferenciada, pois esses grupos sociais ressignificaram a escola, que era um instrumento de colonização e foi utilizada por eles como uma forma de valorização de suas identidades étnicas com o ensino das línguas maternas e a valorização de suas culturas. Isso fortaleceu o protagonismo indígena. A Rede Federal tem uma excelente estrutura e está localizada em regiões que permitem o acesso desses povos a uma educação técnica e profissionalizante, possibilitando ajudar a melhorar a situação das comunidades fornecendo auxilio técnico e profissional com a formação de seus jovens.

 

ASCOM – Em seu estudo, o senhor fala sobre tensões na convivência dos alunos indígenas  com os não indígenas e, por vezes, sobre dificuldades gerais do corpo estudantil. Acredita que os eventos institucionais com a temática dos direitos e da representatividade indígena possam melhorar essas relações?

 PROFESSOR MARCOS – Não há dúvida de que, quanto mais falarmos e abrirmos canais institucionais para os estudantes e as lideranças se manifestarem, mais permitiremos um entendimento da importância dos povos indígenas na formação do Estado de Roraima, e a escola é o espaço por excelência da convivência. Nos nossos campi, podemos demonstrar como é possível a convivência harmoniosa e respeitosa entre toda a diversidade étnica e cultural de nossa região.

 

 ASCOM –  Como educador, qual a mensagem que o senhor deixar para a população sobre a diversidade étnica neste mês em que se celebra o Dia dos Povos Indígenas?

 PROFESSOR MARCOS –  Acredito que devemos muito respeito e apoio à causa indígena. Somos um estado beneficiado pela diversidade étnica e cultural. Aprendemos muito com o diferente,  e não há dúvida de que os povos indígenas têm muito a nos ensinar.

 

 

 Dicas culturais relacionadas à data comemorativa


  Filme

  A dica de filme que tem afinidade com a data celebrativa foi enviada pelo professor doutor Amarildo Ferreira Júnior, diretor da Agência de Inovação (Agif), vinculada à Reitoria.  É o documentário “Cumaji –  O sabor tempera o costume”, dirigido e produzido por Irmânio Sarmento, artista e artesão roraimense, com fotografia e edição de Valmik Mota.

 O professor explicou que “o documentário aborda o processo de elaboração do cumaji por habitantes da Terra Indígena São Marcos, em Roraima. O  cumaji é um tipo escuro de tucupi – sumo extraído da mandioca (Manihot esculenta) e amplamente utilizado na cultura alimentar dos povos da Região Amazônica”.

Conforme a ficha técnica, o documentário foi produzido com recursos do edital público Premiação Faz Cultura, da Prefeitura Municipal de Boa Vista, facultado pela Lei Aldir Blanc (Lei 14.017 de 29 de junho de 2020). Selecionado para ser exibido no Festival de Cinema da Quebrada, em São Paulo, o filme está disponível no YouTube, no link https://www.youtube.com/watch?v=B2BfqFTHU5E.

 

  

Livro

 Para a leitura, a indicação também veio do professor Ferreira. Ele recomenda o e-book Poesia Indígena, disponível gratuitamente no link  http://www.p-o-e-s-i-a.org/dossies/, da revista p-o-e-s-i-a.  O docente explicou que livro foi elaborado a partir do  p-o-e-s-i-a.org, projeto colaborativo de criação de uma rede de ação continuada para o fortalecimento da poesia brasileira, que conta com nomes de destaque na literatura indígena contemporânea, como Graça Graúna, Márcia Wayna Kambeba e Olívio Jekupê. A obra teve como editora convidada a escritora e doutora em Teoria da Literatura Julie Dorrico.

Ferreira esclarece que Julie é autora do livro Eu sou macuxi e outras histórias, publicado pela Editora Caos e Letras, em 2019. Ele comenta ainda que a escritora também faz parte do canal do YouTube Literatura Indígena Contemporânea, acessível no endereço  https://youtube.com/c/LiteraturaInd%C3%ADgenaContempor%C3%A2nea. O canal traz vídeos breves com indicações de livros na temática indígena, inclusive para o público infantojuvenil, além de outros mais longos, com palestras e entrevistas.

 

 

Próxima data da calendarização

 A próxima data da campanha “Que Dia é Hoje? Venha Descobrir com o IFRR” será o o Dia Internacional contra a Homofobia, celebrado em 17 de maio. Professores, técnicos administrativos e estudantes que tenham estudos sobre o assunto podem encaminhá-los como referência acadêmica para a próxima calendarização. Além disso, a comunidade acadêmica pode enviar sugestões de referências midiáticas, preferencialmente disponíveis gratuitamente e on-line, para quem tiver interesse de assistir ou baixar o material. As sugestões podem ser encaminhadas, até o próximo dia 24 de abril, para o e-mail ascom@ifrr.edu.br.  

 

 

Texto: Sofia Lampert
Revisão: Antonio Matos
Layout: Simone Moreira
16/4/2021
 
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