O que temos a comemorar no Dia das Mães?

por Sofia Lampert publicado 06/05/2022 11h00, última modificação 06/05/2022 23h47
A psicóloga e servidora do IFRR Alizane Ramalho, lotada na Pró-Reitoria de Ensino, traz uma reflexão sobre a data comemorativa desta semana, que tem grande repercussão na mídia e que é culturalmente bastante celebrada

Idealização da maternidade, romantização do sofrimento, invisibilidade do trabalho doméstico, sobrecarga psíquica, tripla jornada de trabalho, não acolhimento da maternidade nos espaços laborais e acadêmicos. Julgamentos, rotulações e adoecimentos mentais.

Qual mãe encontra espaço para falar de seu cansaço, de sua exaustão, de sua solidão e de seu desamparo? Oferecemos flores e chocolates, mas não oferecemos ombro, colo, escuta e acolhimento. A função parental é empurrada para a mulher, de forma excludente e solitária, legitimizada no mito do amor incondicional, de que a mulher só é completa na maternidade, de que esse amor preenche tudo. Cilada! As mulheres se afundam na tristeza, na culpa de se sentirem fracassadas nessa função, pois não existe maternidade que se sustente sozinha. 

Nossa ancestralidade aponta para isso. As mães são feitas de toda uma coletividade de cuidado. Mas, em tempos de mídias sociais, de liquidez, de relações sem profundidade e afetos (de se afetar!), o que temos são mães questionando a própria capacidade de cuidar, baseando suas experiências nas exigências de pessoas que têm toda uma engenharia social de suporte (dinheiro para terceirizar tudo!). O que temos são mães que se sentem exaustas, cansadas, más, loucas, não tão mães assim...

Mães são pessoas e precisam ser enxergadas fora da função materna, como pessoas,  tão pessoas como quaisquer outras: fracassam, choram, gritam, se culpam e precisam de cuidados e compreensão. Mães não são heroínas, guerreiras ou deusas. São contradições, mágoas, dores, sexo, sensualidade, trabalho, filhas e o que elas quiserem ser no campo da liberdade que todo ser humano tem, na responsabilidade de ocupar o lugar que der conta de ocupar. Com amparo, suporte, sustentação e empatia. Quem é que dá conta dessa função materna? Quem sabe plenamente de algo que nunca foi ensinado? Maternidade é lugar de desaprender. De desconstrução. De diálogo e confronto com as crenças familiares que carregamos (pois é, os fantasmas do endeusamento materno são carrascos).

O que o seu olhar está treinado para ver? Você é daquela gente que quer saber onde está a mãe desse menino, que grita que quem pariu o Mateus é que o embale, que julga as experiências alheias com base nas suas próprias experiências? Ou você é daquela gente que embala o Mateus junto, que carrega um olhar terno de compreensão, que escuta, que acolhe e que tem sempre disposição para cuidar de quem cuida de todos? As mães estão esgotadas por serem as principais cuidadoras dos filhos. Não responsabilize as mães como as únicas encarregadas do sucesso ou do fracasso das crianças. Não reduza a mulher a uma função que não cabe apenas à mãe, mas a todos.

Só é possível mudar o mundo cuidando de quem cuida de todo mundo! Levantar a bandeira de uma maternidade democrática, livre de tabus e silenciamentos é promover saúde mental. Convidamos você a fazer parte da onda Furta-Cor!


Texto: Alizane Ramalho
Mãe de três crianças, psicóloga, servidora do IFRR
Foto: Ramon Queiroz
Ascom/Reitoria
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