QUARTO DE DESPEJO – Estudantes do CBVZO fazem exposição sobre obra de Carolina Maria de Jesus

por Bruna Dionísio Castelo Branco publicado 21/06/2023 13h30, última modificação 21/06/2023 13h58

As turmas do 3º ano dos cursos técnicos em Comércio e Serviços Públicos integrados ao ensino médio do Campus Boa Vista Zona Oeste do Instituto Federal de Roraima (CBVZO/IFRR) realizam, nesta quarta-feira, 21, a exposição do projeto "Leitura e discussão integrada da obra Quarto de Despejo". Os portfólios com os materiais produzidos ficarão expostos, durante todo o dia, para a comunidade acadêmica.

Trata-se de projeto interdisciplinar envolvendo, por meio da leitura do livro de Carolina Maria de Jesus, os componentes curriculares Geografia, Sociologia, Filosofia e Língua Portuguesa/Literatura.  A partir da leitura da obra, foi proposta a discussão dos temas similares entre as ementas dos cursos.

Um dos objetivos da ação foi estimular o espírito de leitura e o aguçamento da percepção dos elementos descritos no livro, levando os estudantes a compreender e relacionar os conteúdos com as questões socioeconômicas de quem vive nas cidades. Pretendia-se, por meio disso, contribuir para uma percepção crítica dos problemas do País na atualidade, promovendo o conhecimento do memorial e do diário como ferramentas literárias de revelação dos contextos sociais e de universos que divergem da realidade.

Além da abordagem social e econômica, o livro fala de outros aspectos da vida urbana, como a construção desordenada das cidades, a falta de infraestrutura das favelas e a precariedade de vida das pessoas que habitam essas áreas.

Para a estudante do curso Técnico em Comércio Hilary Alves, a leitura foi impactante. “Sabemos que existe desigualdade e pessoas que passam fome diariamente. Mas uma coisa é saber e outra é ler um livro que, do inicio ao fim, é a narrativa de uma mulher que descreve todo o seu sofrimento de fome, vivido todos os dias. Foi algo que mexeu muito comigo. Tem frases muito fortes, que me marcaram e que, muitas vezes, me causaram dor. Eu sentia a dor da Carolina, principalmente nos relatos sobre a fome dos filhos e a morte de pessoas por fome, por doenças, por morar em um lugar insalubre. É um sofrimento tão escancarado, sem rodeios... Ela narra a realidade nua e crua. Então, é possível ter total entendimento e a percepção completa de todo o sofrimento vivido”, contou.

Ainda conforme a estudante, o projeto foi importante para que os alunos pudessem ter noção de seus privilégios. “Temos tanto e não valorizamos! Com a leitura do livro, pudemos enxergar com outros olhos muitas coisas que não valorizamos, como o arroz e o feijão do dia a dia, poder sair pra nos divertir, não estar sendo expostos a situações constrangedoras de violência e abuso, como os personagens do livro”, confessou.

O projeto foi desenvolvido em sete etapas: planejamento; orientação dos estudantes; leitura e discussão da obra em grupo; elaboração do portfólio para exposição das análises e das relações entre conteúdos, obra e realidade; debate da obra e das problemáticas sociais apresentadas pela autora e exposição dos portfólios à comunidade acadêmica.

 

OBRAQuarto de Despejo: diário de uma favelada é uma obra da escritora mineira Carolina Maria de Jesus. Em forma de diário autobiográfico, o livro, escrito por uma mulher negra, pobre, com apenas dois anos de estudo, relata fatos ocorridos na favela do Canindé, em São Paulo, nos anos 1955 e 1959. A autora faz reflexões sobre os acontecimentos que marcaram sua vida e mostra a realidade social do Brasil em meados do século 20. Para dar conta dos filhos, que criou sozinha, ela foi catadora de papelão e metal, e também trabalhou como lavadeira.

É uma história de sofrimento e resiliência de uma mulher que lida com todas as dificuldades, fome e extrema pobreza para garantir o sustento dos filhos. Carolina foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas quando este fazia uma reportagem na Favela do Canindé, localizada às margens do Rio Tietê, em São Paulo. Ela entregou para Dantas diversos cadernos com seus diários. O livro, publicado em 1960, ganhou tradução em 13 línguas, sendo um sucesso pela crítica. Foi um marco na vida da autora, além de um divisor de águas na literatura nacional por dar voz a uma figura tão à margem da sociedade.

 

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